domingo, 27 de abril de 2008


“... porque não te amo, tenho este corpo para te oferecer; porque te amo, fujo e desapareço, não te esqueço, porque essa é a minha forma de te amar - tudo o resto é ainda mais e mais sofrimento.”

in Não te Deixarei Morrer, David Crockett
Miguel Sousa Tavares

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.
Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.
Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos...
E erquendo os gládios e brandindo as hastes
No desespêro dos iconoclastas,
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
Augusto dos Anjos

sábado, 26 de abril de 2008


Que todos os pêndulos sejam pontes
entre mim e parte incerta
Que todas as pontes sejam pernas alvos
de púrpura e cetim
Que todas as pernas sejam frutos
só sem mais nada ou ninguém
Luis Rodrigues

A tua meterologia é tão simples.
Se me sorris o sol brilha,
se não te vejo caem trovões.
Meu deus, que escuros são os dias sem ti!

sexta-feira, 25 de abril de 2008


Vem.
Vem comigo
Cansados de amor
mergulhemos juntos na noite
no silêncio dos amantes
amor amor amor
repete comigo as palavras que nos dão paz.
Luis Rodrigues

Tu és tu em demasia
da mão despudoradamente nua
aos olhos que não vêem
e que levas nos meus.

É segunda-feira.
Há árvores céu e estradas sem fim.
Existe uma normalidade rectilínea em tudo o que me cerca e no entanto choro.
Choro lágrimas anormalmente rectilíneas vazias de árvores céu e estradas sem fim.

quarta-feira, 23 de abril de 2008


Não precisas de presentes
Nem rimas, nem flores, nem nada
Basta trazeres o que sentes
E chegares de madrugada.

terça-feira, 22 de abril de 2008


A minha Dor é um convento.
Há lírios dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve… ninguém vê… ninguém…

Florbela Espanca - O Livro das Mágoas

segunda-feira, 21 de abril de 2008


Sinto-te o ardor,
e o crepitar te escuto,
Beijo divino!
e anseio, delirante,
Na perpétua saudade de um minuto...
Olavo Bilac

sábado, 19 de abril de 2008


Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando... -
e um dia eu me acabarei.

'Mais do que um sonho:
comoção!
sinto-me tonto,
enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido..."

Vê como o verão
subitamentese faz água no teu peito,
e a noite se faz barco,
e a minha mão marinheiro.

quinta-feira, 17 de abril de 2008


Embriaguei-me num doido desejo
E adoeci de saudade.
Caí no vago ... no indeciso
Não me encontro, não me vejo -
Perscruto a imensidade.

quarta-feira, 16 de abril de 2008



A boca,
onde o fogo de um verão muito antigo cintila,
a boca espera
(que pode uma boca esperar senão outra boca?) espera o ardor do vento para ser ave,
e cantar."

sábado, 12 de abril de 2008

Pra ti Antonio


Se for preciso, irei buscar um sol
para falar de nós...
Na memória mais funda guardarei...palavras e olhares, se for preciso...
Só não trarei o resto da ternura...
No fundo do amor, tenho-a comigo.
Quando a quiseres.
(Ana Luísa Amaral)

"Jogo a sombra do corpo contra a parede alva da tua ausência
Selo os lábios com pontos em cruz vermelhos
Retiro das órbitas os olhos que te não enxergam
As mãos atadas pelas palavras mal-ditas _ porque não ditas
Em vão procuro o fogo da tua fonte
Corpo fátuo que me roubou a alma..."

segunda-feira, 7 de abril de 2008


... Quanto sentir-te e me sentires
não foi se não o encontro eterno
que nenhuma imagem jamais separará -...
(Jorge de Sena)

"Mas eu,
a cada visita espero o impossível:
que ainda uma vez o seu olhar me alcance,
e por um momento me ame..."

"... A tua presença cresce na sombra dos dedos
e eu sonho-te agora
sonho-te…
no traço imóvel que me desenha a vida."

quinta-feira, 3 de abril de 2008


Estou à tua espera.
Estou sempre à espera
De esse outro
Que me consome
Que me enche de sonho...
Espero
Vagarosa e muda..
(Ana Hatherley)